Bullying

16 Set

Não é sem ter o coração apertado que venho falar deste assunto. À primeira vista pode até nem ter a ver com o Invicta Maquiagem, mas na verdade até tem. Tem porque eu fui vítima de bullying e uma das coisas pelas quais mais atacada fui foram os problemas de pele (tive um caso de acne bastante grave até aos 13/14 anos) e o facto de gostar de me vestir de uma maneira que não correspondia ao que os meus colegas de escola achavam que eu devesse usar. Passaram-se muitos anos até eu ser capaz de falar neste assunto, sempre o evitei, mas hoje em dia penso que se, ao contar o que aconteceu, puder ajudar alguém a sentir-se menos só, estou a fazer algo positivo.

bullying stops here

O bullying pode acontecer na escola ou no trabalho, com pessoas de qualquer idade. Intimidar, espalhar boatos, magoar física ou psicologicamente podem constituir bullying. Tendo eu sido vítima de agressões físicas e psicológicas, posso dizer que as palavras podem magoar muito mais. Quando eu era mais novinha não se falava de bullying, agora fala e sabe-se o que é, por isso antes era muito mais difícil pedir ajuda. Eu sei que muita gente vai virar costas, mas acreditem que muitas das pessoas que viram costas ou sofriam na escola e viram costas para não se relembrarem disso ou então eram eles próprios a fazer os outros sofrer. Ao longo dos anos fui descobrindo isso e entristece-me muito.

Na altura falei a professores que ignoraram, falei a funcionários que disseram que era apenas uma brincadeira e que as outras crianças faziam bem em fazer pouco de mim por eu não saber aceitar uma brincadeira e, por fim, resolvi falar com a minha Mãe. Um dos professores chegou a dizer-me que quando estamos zangados descontamos isso em quem mais gostamos e que se os meus colegas me estavam a tratar mal é porque gostavam muito de mim. Na altura não disse nada, mas hoje sei que isso é uma perfeita estupidez. Se fosse hoje, se eu soubesse na altura o que sei hoje, teria conduzido as coisas de uma maneira diferente. Teria falado primeiro com os meus pais e pedido que eles fossem à directoria da escola e lá exercessem pressão para que o caso se resolvesse. Sei que muita gente não fala por medo que tudo se torne pior, mas acreditem que ficar calado é o pior que se pode fazer – sofrer em silêncio não é sinal de bravura. Além disso, numa situação como esta, os nossos pés e as nossas mãos estão atados. Quando estas situações acontecem na idade adulta, no trabalho por exemplo, é outra história. Os adultos têm outro jogo de cintura e são capazes de lidar com as coisas de outra maneira e procurar ajuda de um jeito que não é possível às crianças e adolescentes. Não quer dizer que não precisem de ajuda, podem precisar, mas é mais fácil saber procurar um conselho amigo ou profissional.

Queixem-se, falem, se têm 10 disciplinas falem aos 10 professores, alguém vos vai ouvir. Se não ouvirem, falem com outros professores da escola, falem a todos os funcionários, falem aos vossos pais ou irmãos, falem a toda a gente que vos der meio minuto de atenção. Algumas pessoas podem ignorar, mas alguém vos vai ajudar, acreditem nisso. É muito importante que os pais, em especial, não tentem tomar o assunto nas próprias mãos e tirar satisfações com os agressores, afinal não estão lá a toda a hora e podem surgir represálias. Tentem ajudar e guiar, ensinar os vossos filhos a lidar com as adversidades (caso contrário nunca o saberão fazer), falem e discutam o assunto mas com outros pais e professores – os pais têm muito peso e influência junto dos professores e directores. Os jovens devem perceber que são amados e entendidos em casa, mas neste caso tratar directamente com os colegas do filho não será o melhor procedimento. Dar ferramentas para lidar com a realidade e um abraço apertado com muito carinho de Mãe ou de Pai ensina muito mais da vida do que tirar todos os obstáculos da frente. Há casos extremos, claro que há, mas devemos tentar resolver as coisas com muito bom senso.

Evitar quem nos provoca e intimida é uma solução temporária, e também não devemos procurar a companhia de quem não gosta de nós, mas não podemos passar a vida a fugir e esconder a cara. Há várias maneiras de tentar fazer com que aquele momento passe, ignorar e não reagir ou, então, virar costas até, se for possível- regra geral, se as pessoas virem que não nos afectam tendem a parar, mas ainda assim, devemos fazer queixa. Só cada pessoa pode escolher o que pensa que irá resultar melhor na sua situação.

Quando o bullying é na Internet, é muito importante reunir provas. Tirem “print screens” de tudo o que acharem minimamente importante e relacionado. Na Internet as coisas vão e vêm, é fácil apagar e desdizer, mas tendo uma prova do que se passa, é mais fácil que alguém nos ajude. Na escola tive uma colega que estava a sofrer com sms de ameaças de morte por gostar de um rapaz que não pertencia ao “grupinho” dela. Ela guardou as mensagens e só assim foi possível ajudar. De contrário, seria palavra contra palavra e os agressores são inocentes até que se prove o contrário.

Há o mito (sim, mito) de que as crianças são doces e inocentes, mas não é sempre assim. As crianças podem ser muito cruéis e ter o propósito de magoar outra pessoa. Muitas vezes não estão bem em casa, ou são outras pessoas completamente diferentes em casa e vai daí que ninguém se acredite que chegam à escola e maltratam outros colegas. Contudo, acontece, e é muito mais frequente do que possamos pensar.

A mensagem final que quero deixar é que o que as pessoas nos fazem de mal é o reflexo da personalidade e da (falta de) carácter delas. Nada tem a ver connosco e não é culpa nossa. Não somos nós que somos maus e temos pouco valor – são eles que estão errados, não somos nós. Não há nada, absolutamente nada, que justifique os maus tratos a nenhum ser vivo, muito menos a uma pessoa.

13 Respostas to “Bullying”

  1. patuxxa Setembro 16, 2013 às 7:44 pm #

    Gostava de saudar a tua frontalidade em abordar este assunto. Eu também fui vítima de “bullying” e na altura não sabia o que era, ou pensava que era uma situação social normal. E atenção, isto passou-se num estabelecimento de ensino privado! O “bullying” pode acontecer em qualquer lugar. O que fez de mim um alvo, imagina, era ter as melhores notas da turma… Felizmente foram só alguns anos e quando mudei de estabelecimento de ensino tudo acabou porque passei a conviver com pessoas normais! Hoje quando olho para trás sinto que me tornei bastante defensiva no convívio com outros por causa disto.

    • mickysantos Setembro 16, 2013 às 8:02 pm #

      Sinto muito que tenhas passado por isto. Comigo passou-se num colégio de freiras e num estabelecimento de ensino público e é igual, as pessoas agem da mesma maneira. Fico contente que com a mudança de escola tenhas resolvido o problema e muito obrigada por teres lido!

  2. Mint Julep Setembro 17, 2013 às 11:27 am #

    Foi preciso chegar aos 40 anos para ser vitima de bullying, na internet. Mói, mas ao contrário daquilo que a pessoa (pessoas) que of az pensa, não vou deixar de estar online e fazer o que me apetece por esse ser tentar tolher todo e qualquer passo que eu dê. Cheguei a considerar fechar o blog, há cerca de um ano atrás, quando as coisas se tornaram de tal modo que até emails com referencias ao meu filho eu andava a receber. Estão todos muito bem guardadinhos, e se por um lado tenho desconfiança de que sei quem é a pessoa que está por detrás disto, por outro neste momento nem estou pra me chatear dando valor sequer á existência dessa pessoa. Baste-lhe saber que tenho tudinho registado e guardado, e se um dia me passo, pego em tudo e vou á PSP ou á Judiciária com uma queixa de perseguição. Mas mói, e cansa, a última foi denunciar-me por spam no Facebook e cada vez que quero colar um link é uma chachada de ter de preencher word verification, o que para uma pessoa comproblemas de visão como eu – tenho dificuldade em focar – se torna um enorme desperdicio de tempo… enfim, sei que é uma pessoa – ou pessoas, que eu acho que ela tem tido ajuda – que infelizmente tem uma vida pessoal muito infeliz, para se sentir tão agredida com a minha existência. Poderia aconselhar-lhe uns bons psiquiatras, mas nem vale a pena 😉
    http://fashionfauxpas-mintjulep.blogspot.pt

    • mickysantos Setembro 17, 2013 às 1:51 pm #

      Admiro a tua “serenidade” em não fazer nada perante ameaças ao teu filho. Não tenho filhos, mas acho que não seria capaz de ficar quietinha e esperar se alguém me ameaçasse de modo que afectasse os meus (entre os quais se contariam filhos, claro). Às vezes o mais certo é mesmo ignorar, mas não sei se seria capaz!

      • Mint Julep Setembro 21, 2013 às 8:58 am #

        Micky, ninguém ameaçou o meu filho, alto e pára o baile. Se tivesse reebido ameaças ao puto já tinha ido á judite acredita. Recebi foi mails a dizer que o meu filho devia ter vergonha da mãe que tem, que eu sou a pior mãe do mundo, que ele é um desajustado, que eu nem sequer tenho um filho… enfim, cenas dessas. Daí até ameaças vai um largo caminho, e se algum dia as recebo, é policia directamente.
        http://fashionfauxpas-mintjulep.blogspot

      • mickysantos Setembro 21, 2013 às 7:33 pm #

        Ah, eu tinha percebido mal, então! 🙂

  3. Paulo Vasco Setembro 17, 2013 às 3:16 pm #

    Palavras que quase na sua totalidade parecem minhas…
    Também eu penso que ao escrevermos, ao relatarmos uma experiência, podemos ajudar pelo menos uma pessoa. Se o conseguirmos, o nosso objetivo foi alcançado. Reforço o que escreveu acerca das crianças: sim, nem todas são doces e ingénuas, São 17 anos a trabalhar com elas + 3 de estágios integrados no curso. Num caso extremo, o psicopata não é fruto da sociedade. Ele já nasceu assim!
    Abraço

  4. A Dalila Setembro 20, 2013 às 8:01 pm #

    Totalmente de acordo.
    Também eu sofri bulling dos 13 aos 14 e foi verdadeiramente doloroso. Todavia, as minhas queridas colegas atacavam-me apenas via web, principalmente por e-mail (palavrões e fotos manipuladas com a minha cara eram o prato de todos os santos dias, por meses), não só por cobardia mas porque no dia em que se decidiram a deixar-me de falar – do nada -, eu deixei de lhes dirigir a palavra.
    Tenho guardados todos os e-mails, pois ao passar para o secundário achei necessário – se necessário – poder recorrer a eles de modo a saber-me forte, justa e adulta (quando não o deveria ser).
    Passei um ano inteiro sozinha, nos cantos da escola. Pensei em morrer e nunca o disse a ninguém.
    A minha mãe mudou-me para uma outra escola, no secundário, e fui imensamente feliz por lá. Todavia, talvez por ter sofrido tanto no básico e ter ganho um porto de abrigo tão grande no secundário, não consegui adaptar-me na universidade e entrei numa grande depressão que, basicamente – e apesar de ultrapassada – , me limita o dia-a-dia.
    Mais tarde, as mesmas miúdas pediram-me desculpa pela idiotice… Bem, acho complicado de se perdoar tanta falta de humanidade.
    Não há qualquer dúvida que receio criar miúdos tão cruéis ou que sofram na pele essa mesma crueldade – soube fingir tão bem que me encontrava (razoavelmente) bem com esta situação que, embora com uma mãe persistente e atenta, saberia que teria sofrido o choque (e o desgosto) da sua vida se eu tivesse posto fim à minha vida.

    • mickysantos Setembro 21, 2013 às 7:28 pm #

      Eu não guardo rancor de ninguém, não faz parte de mim, mas é bem certo que demorei a passar adiante de todas estas coisas. Hoje em dia vai havendo mais informação e tenho certeza que tu, já estado alerta, saberás fazer de modo que não se passe o mesmo com os teus filhos.

  5. IsaC Setembro 20, 2013 às 8:05 pm #

    Sei bem o que é ser vitima de “bullying” sofri – o na pele, devido há isso jogo sempre na defensiva para ninguém me magoar.

    • mickysantos Setembro 21, 2013 às 7:29 pm #

      Sim, é uma reacção muito comum. Pode ser que com o tempo tudo melhore 🙂

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